Entre os milagres, há os que não são verdadeiros, mas fatos imaginários, que enganam o homem, fazendo-o ver o que não existe. Outros, são fatos reais, embora não mereçam verdadeiramente o nome de milagres, pois são produzidos por certas causas naturais. Ora, essas duas categorias de milagres podem ser feitas pelos demônios.

Os verdadeiros milagres não podem ser realizados senão pelo poder divino, pois Deus os produz para a utilidade do homem. E isto de dois modos:
  1. Primeiro, para confirmar a verdade sagrada.
  2. Segundo, para manifestar a santidade de alguém, que Deus quer propor como exemplo de santidade.

Ora, no primeiro caso, os milagres podem ser realizados por todos os que pregam a verdadeira fé e invocam o nome de Cristo, o que, às vezes, pode ser feito pelos próprios maus. Por isso, a respeito das palavras de Mateus: “acaso não profetizamos em teu nome?” (7, 22) etc., diz Jerônimo: “Profetizar ou fazer milagres e expulsar demônios, às vezes não vem do mérito de quem o faz; mas é a invocação do nome de Cristo que o faz para que os homens honrem a Deus, por cuja invocação se realizam tantos milagres”.

No segundo caso, só se realizam milagres pelos santos, para manifestação da sua santidade, seja durante a sua vida, seja depois de sua morte, tanto por si mesmos, como por meio de outros. Assim, lemos nos Atos dos Apóstolos: “Deus fazia milagres por mão de Paulo; de tal modo que, até quando se aplicavam aos enfermos os lençóis que tinham tocado o seu corpo, saíam deles as doenças” (19, 11-12). E, deste modo, também nada impede que algum pecador faça milagres por invocação de algum santo. Porém, tais milagres não deverão ser atribuídos ao pecador, mas àquele cuja santidade Deus pretende manifestar por meio deles.

Fonte: Suma Teológica, II-II, 178, 2.